sábado, 29 de dezembro de 2007

Um mapa no caminho...

Salmo 148

Louvem ao Senhor no céu,
Louvem ao Senhor nas alturas ;
Louvem a Deus, todos os anjos,
Louvem a Ele seus exércitos todos!
Louvem a Deus, sol e lua,
Louvem a Ele, astros de luz!
Louvem ao Senhor, céus dos céus,
e águas acima dos céus!
Louvem o nome do Senhor,
pois Ele mandou, e foram criados ;
Fixou-os eternamente, para sempre,
Deu-lhes uma lei que jamais passará.

Louvem ao Senhor na terra,
Monstros marinhos e abismos todos,
raio e granizo, neve e nevoeiro,
e o furação, cumpridor de Sua Palavra.
Montes e colinas todas,
árvores frutíferas e cedros todos;
feras e animais domésticos,
répteis e pássaros que voam.
Reis da terra e povos todos,
príncipes e juízes da terra;
jovens também as donzelas,
os idosos com as crianças!
Louvem o nome do Senhor:
O Único Nome sublime!
Sua Majestade está além da terra e do céu
e Ele reforça o vigor de seu povo!
Louvor de todos os seus fiéis,
Dos filhos de Israel,
Seu povo íntimo.
Aleluia!



Mapa do caminho

Este salmo é uma metodologia de trabalho e um objetivo a alcançar, é caminho e meta, é mapa na estrada da vida, na caminhada da fé. Todas e todos aqueles que, em suas comunidades de fé, estamos comprometidos em promover a causa do Reino de Deus, devemos nos comprometer com a promoção de direitos, e é oportuno debatermos isto nestes tempos em que se pretende, equivocadamente, colocar “concorrências” entre pentecostais e “ativistas”, entre “renovados” e “tradicionalistas”, como se a Igreja de Cristo não fosse uma só, apesar de tantas as denominações; naturalmente que isto é conseqüência de uma visão preconceituosa do outro e de pouco embasamento histórico teológico; o preconceito sempre se baseia na prepotência de se considerar o melhor que os outros e na ignorância, quando não se conhece a realidade; mas os que testemunhamos o Evangelho, podemos e devemos encontrar inspiração, força e propostas de metas e estilos de trabalho que seguramente nos podem surpreender, nas páginas das Sagradas Escrituras. Deixemos que o Espírito Santo, Criador e Consolador nos conduza, através das estrofes deste salmo e nos fale ao coração e à mente.

Este hino, igual que nossas tarefas pastorais e nosso testemunho evangélico como membros da Igreja da Comunidade Metropolitana, que têm a inclusão como uma das suas marcas radicais, é uma convocação ampla, irrestrita e ilimitada (versículos 1-4). Todos os elementos da humanidade, da criação e do cosmos são convidados a participar desta tarefa de construir uma sociedade mais justa e eqüitativa. O céu, as alturas, os anjos e os exércitos pacíficos de anjos, são os destinatários desta convocação na primeira parte do salmo. Todas as forças positivas que podem cooperar na construção de um espaço sem estigma, nem exclusão, são chamados a ser parte deste projeto do Reino que se inicia e já está aqui no meio de nós mas que é, ao mesmo tempo, a nossa meta e nosso compromisso com Jesus Cristo, para que se torne realidade.

Sempre me provocou dificuldade falar de um Deus de exércitos. Sobretudo a mim, Latinoamericano, depois das amargas experiências que tivemos com ditaduras militares no nosso Continente, sempre tive dificuldades com o vocabulário de guerra, por exemplo, camisetas camufladas e com escritos: “exército de Cristo”, pois Ele é o Príncipe da Paz e seu exército são os anjos e os pacíficos, e não os guerreiros, e “felizes são os que promovem a paz, porque serão chamados Filhos de Deus”, (cf Mt 5, 9). É por isso que prefiro utilizar todo o vocabulário que vem do mundo do trabalho e afirmar que pessoalmente trabalho, discuto, polemizo, mas não luto. Se há uma batalha, ela é espiritual, e já está ganha, mas por Jesus Cristo, desde seu Sacrifício Redentor na Cruz e o inimigo já foi vencido, por Jesus Cristo mesmo, quando Ele venceu a morte; mais que exorcismos, precisamos sim é de conversão, conversão diária, à verdade, ao bem, ao amor, à solidariedade, à paz e à justiça, à estes dons espirituais, do Alto, do Espírito Santo, mas que se manifestam na realidade do dia a dia. Jesus não disse que lutava contra o demônio, mas disse que trabalha e Seu Pai também (cf Jo 5, 17) e nos mandou trabalhar, não pela comida que perece, mas pelo alimento que o Filho do Homem nos daria e que duraria para a Vida Eterna (cf Jo 6, 27). E Paulo mesmo, tantas vezes se refere ao trabalho que devemos realizar, de dia e de noite, incansavelmente. Naturalmente que nós somos conseqüência de muitas coisas, uma pessoa que só viveu com uma maneira de manifestar a fé, que tem uma visão limitada da realidade da Igreja de Cristo e sua maravilhosa e abençoada variedade de expressões, pensará que esta sua maneira é a mais certa, a melhor, e se tiver um pouquinho de arrogância, competirá com os outros e as outras denominações, e se for vaidoso, verá as outras pessoas e as outras denominações como “concorrentes” e não como complementação no testemunho do Evangelho de Jesus Cristo, para todas as pessoas, em todos os tempos, em todos os lugares e em todas as culturas, até que o Senhor venha. Vem Senhor Jesus!!! Amém!!

Compreendemos que ao falar este salmo de exércitos, está falando da multidão de anjos que cooperam na construção deste espaço onde no centro de situa o Emanuel, o Deus conosco e sua Boa Nova anunciada aos pobres (cf Lc 4, 18). Esse exército do qual fala este hino são também as multidões de pessoas comprometidas, até as últimas conseqüências, no mundo inteiro que com seu compromisso de fé, testemunham o Evangelho inclusivo de Jesus Cristo, para aqueles a aquelas que já não tinham esperança, que haviam sido excluídos das igrejas e da sociedade. Eles e elas que experimentaram a liberdade dos filhos e das filhas de Deus, pretendem e se comprometem, para que outros e outras sejam também livres no Espírito Santo e conheçam o Caminho, a Verdade e a Vida, e recebam a mensagem de amor e de aceitação que Deus tem para elas.

Todos os verbos estão no imperativo para mostrar que a ação que se espera, se bem que já tenha começado, ainda não se completou. Essa convocação para as forças positivas que trabalhando, poderá mudar o curso da história da salvação de cada um, de cada uma, e de toda a criação.

Este salmo é um canto de esperança. No meio das crises, sabemos que a fé em um mundo desejado pelo Criador, diferente deste, que nossos pecados transformaram, é possível e que já começou. A ação pastoral como ativista dos direitos LGBT, ativistas espirituais, como é uma das marcas da ICM, tem que ser nesse espaço onde se reconhece esse processo e todos nos transformamos em sinais dessa nova forma de nos situarmos dentro da Igreja de Cristo e diante de Seu Evangelho, se não estaremos fadados apenas a sermos um lugar onde é proibido beber, fumar e se é obrigado a pagar o dízimo, mas a Glória de Deus, que acontece na Verdade, na Justiça e sobretudo no amor incondicional e radicalmente inclusivo, como Jesus Cristo nos ensinou e São Paulo testemunhou, não acontecerá, e a ICM será apenas mais uma igreja fundamentalista, só que “de gays”, que tem na sua liderança gays e lésbicas assumidos, que faz casamento de gays...

Igualmente a este cântico, nós também estamos chamados a entoar um cântico que convida a toda a criação, todos os homens e todas as mulheres de boa vontade, a unir-se, com energia, na construção desta nova comunidade inclusiva e que se compromete a abandonar afirmações e posições excludentes.

Este convite faz que todos os espaços excludentes se fragmentem e a presença do Emanuel faça já impossível seu futuro. O melhor louvor ao Criador, é ser conseqüente com este convite incondicional e ilimitado a que todos e todas participemos desta ação de resgate dos excluídos e excluídas.

Mas da mesma forma que nos primeiros versos se convocam todas as forças positivas, na segunda parte (versículos 7 a 18), são também chamados a construção desse espaço novo, todas as forças que podem apresentar obstáculos ou ser negativas ao projeto d’Aquele que nos convoca. Ainda as realidades nefastas, como a homofobia, a Aids, o racismo, o poder econômico e político, são convocadas a ser geradoras de uma nova vida. A crise de valores que líderes religiosos cristãos provocam, não pode passar sem ter produzido uma mudança revolucionária na forma em que as diversidades se relacionam entre si. O convite a que todos e todas se unam na mesmo louvor, têm como objetivo que em unidade cheguemos a formar uma assembléia onde o Nome de Deus é santificado na dignidade de todas e de cada uma das criaturas criadas a Sua imagem e semelhança. E esta é a razão pela qual trabalhamos juntos, unidos na diversidade e de forma responsável na construção do Reino e que é o melhor louvor ao criador que podemos realizar.

Toda nossa satisfação pelo trabalho realizado, por ter sido considerados dignos de levar a cabo esta missão na ICM, procede do descobrir que é toda a humanidade em sua incrível diversidade a que está convidada a unir-se a este projeto e a este objetivo.

E a Igreja Cristã, independente do estilo litúrgico, da liturgia, que nada mais é do que a maneira de adorar a Deus, por Jesus Cristo, no Espírito Santo, seja pentecostal, evangélico, “tradicional”, “renovado”, etc, é camada a testemunhar que Jesus Cristo é o Senhor e ressuscitado, virá para julgar os vivos e os mortos e chamará para estar com Ele, na Glória, apenas os que O viram com fome e Lhe deram de comer; O viram com sede, e Lhe deram de beber; quando Ele era estrangeiro, O receberam em casa; Ele estava nu, O vestiram; Ele estava doente, cuidaram dele; pois a cada vez que isto foi feito ao menor dos irmãos dele, foi á Ele que foi feito (cf MT 25, 31-46), para os outros, os que diziam Senhor, Senhor, mas não faziam a vontade de Deus (cf Mt 7, 21); Ele dirá apenas “Afastai-vos de mim, malditos!” (cf Mt 25, 31-46). Jesus nos alertou, literalmente que, “Naquele dia muitos me dirão: Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres? Então eu vou declarar a eles: jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores!” (Mt 7, 32-33).

Rev Gelson Piber
Igreja da Comunidade Metropolitana de Niterói
icmniteroi@icmbrasil.org